Morrer no dia seguinte - Coach Carla Soares
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Morrer no dia seguinte

Na minha atividade como Coach, nomeadamente nas áreas de gestão de carreira, tenho-me deparado com uma realidade que me apoquenta: A maioria das pessoas não sabe o que fazer às suas vidas quando chegar o momento de se reformarem.

E porque motivo me apoquenta, perguntar-me-ão?

Porque a incerteza e a falta de objetivos suscitam-me sempre bastante ansiedade e desconforto.

Partilho contigo uma pequena história que resume esta minha perceção.

 

Numa aldeia muito distante vivia um sábio ancião, que ia fazer 150 anos.

O líder da tribo decidiu que no dia seguinte a completar 150 anos, o ancião se deveria reformar e seria afastado das suas funções, para descansar.

O ancião decidiu convidar para o seu aniversário todas as pessoas da aldeia e das aldeias vizinhas, onde enviou um arauto que anunciou: “O grande ancião vai celebrar 150 anos de vida e vai morrer no dia seguinte. Quem quiser prestar-lhe uma última homenagem, deverá comparecer amanhã à sua festa”.

As pessoas ficaram incrédulas: “Vai morrer no dia seguinte? Estará doente? Suicidar-se-á? Será o líder da tribo que o mandará matar?”

Muitos boatos soaram e ressoaram na aldeia onde o ancião vivia e nas aldeias vizinhas, chegando também aos ouvidos do líder da tribo, que mandou chamar o arauto que tinha andado a anunciar o aniversário do ancião.

O que foi que andaste a dizer às pessoas? Porque motivo disseste que o homem ia morrer no dia seguinte?”

O arauto respondeu: “Foi o ancião que me deu essas instruções e disse-me que tu, grande líder, estavas a par de tudo”.

O líder mandou chamar o ancião e disse-lhe: “Estou confuso: ou tu estás senil ou tu estás carente. Se estiveres senil, eu perdoo-te, pois sei que a idade faz com que as pessoas se confundam e misturem a realidade com a ficção; se estiveres carente e a necessitar de atenção, espalhando para isso calunias, eu não te poderei perdoar”.

O ancião respirou tranquilamente antes de falar, colocou a mão no coração e disse: “Grande líder, no momento em que disseste que me ias afastar do meu trabalho para descansar, assinaste a minha sentença de morte. Durante toda a minha vida, que se resume agora à idade de 150 anos, nada mais fiz do que trabalhar. Não sei fazer mais nada, nunca descansei nem sei o que isso significa. Também nunca tive tempo para imaginar a minha vida longe das minhas atribuições. De ancião, nada tive na minha vida profissional. Retirares-me o meu trabalho é guilhotinares a minha essência. Como tal, morrerei. Poderá não ser uma morte física, o meu corpo continuará a respirar, a fazer as suas funções vitais. Mas eu, como ser e como homem, limitar-me-ei a sobreviver até ao dia em que definharei de tédio e sucumbirei à dor de me ter sido retirada a minha razão de viver”.

São muitas as vezes que me deparo com este cenário: pessoas que nunca pensaram em como serão as suas vidas quando se reformarem, que hobbies vão ter, como vão passar os seus dias, com quem se vão relacionar?

Que viagens vão fazer, que amigos vão resgatar, a quem vão perdoar “águas passadas”? Em quem se vão apoiar? Quantos sonhos antigos vão concretizar?

Mesmo que não estejas nem perto da idade da reforma, estarão os teus pais preparados para essa fase? Estarão os teus avós?

Quão feliz serás tu, ou os teus pais ou os teus avós se prepararem com tempo e segurança esta fase tão importante da vida?

Vais querer ser como o sábio que não soube ser sábio ou vais querer aproveitar melhor esta importante fase da vida?