Mulheres que Vivem a Cores - Coach Carla Soares
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Mulheres que Vivem a Cores

Saímos de casa todos os dias para ir trabalhar e há aqueles dias que se destacam porque não nos limitámos a trabalhar: fomos verdadeiras super-mulheres.

Trago-vos o relato desse dia na primeira pessoa, fazendo aqui hoje uma catarse desse momento e recordando-me de como é bom ser-se desenrascado, perseverante e corajoso.

Era Fevereiro e chovia. Caía aquela chuva que arrasa com as tampas de esgoto, avassala sarjetas e inunda garagens. Imaginem o pior cenário na inundação de uma garagem, com carros completamente debaixo de água e elevadores avariados. Já imaginaram? Agora adicionem a esse cenário, um exército de ratos a fugirem da inundação escada acima, na minha direcção.

Recuemos à chuva. Eram 8.00, estava eu já estava a trabalhar, e liguei o rádio para saber das novas em relação ao dilúvio, pois era mesmo disso que se tratava: água impetuosa e completamente desgovernada, que arrebatava tudo com violência à sua passagem. De repente, soa na empresa uma sirene que eu nunca tinha ouvido. Desci à receção, ainda vazia, à procura do botão off, para acabar com a “chinfrineira”. Vi que a luz intensa que piscava dizia “garagem: bomba de escoamento”. Voltei a descer mais dois andares, e quando a porta do elevador se abriu… entrou uma onda de água suja e fétida que me gelou os pés. A garagem estava já com meio metro de água, pelo menos, e eu não sabia o que fazer.

Achei que subir de elevador com aquela água toda a entrar na cabine e, possivelmente, no poço não era uma boa ideia e decidi ir pelas escadas. Quando começo a subir, verifico que não era apenas eu que corria: dezenas de ratos aos guinchos almejavam o mesmo que eu.

Sorte que tinha levado comigo o telemóvel. Liguei para os bombeiros que me dizem: “Menina, já teve muita sorte em lhe termos atendido o telefone. Os acidentes de viação, as pessoas em perigo e as catenárias na estação têm prioridadeVolte a descer à garagem, ligue os botões vermelhos que estão ao lado das válvulas e a água vai começar a bombar para fora”.

Na véspera deste acontecimento, eu tinha comprado umas galochas para oferecer à minha filha. Sorte a minha que usamos o mesmo número: calcei as botifarras e ganhei coragem para descer novamente à garagem e procurar os ditos botões. Sem me aperceber, e porque tinha os sapatos completamente alagados, fui ensopando a alcatifa toda à minha passagem. Mas já lá vamos a esse pormenor. Voltemos de novo às válvulas de escoamento. Liguei as ditas cujas, saí da garagem rumo ao escritório de novo e decidi começar a ligar a todos os meus colegas que costumavam colocar o carro na garagem para lhes dizer: “Por favor, não estacionem aqui. Arranjem lugar na rua!”

Dez telefonemas depois, e de volta ao assunto “alcatifa espezinhada”, resolvi pegar num aspirador de pó e água que a empresa de limpeza utilizava para limpar as janelas e toca de ir aspirar as minhas pegadas de água que tinha deixado no escritório quando fui buscar as galochas. E neste momento, entra na empresa o nosso Administrador, que tinha marcado dois compromissos diferentes para a mesma hora e delegou-me um deles.

Ok, eu vou – pensei eu. Só preciso de sapatos, meias e calças novas. De resto, tudo bem”. Saí à rua para tentar comprar a farpela adequada ao requerido e quando estou quase a entrar na loja… “Pumba”! Um carro bate com toda a força na montra do estabelecimento, partindo-a em cacos.

Miraculosamente, a condutora nada sofreu e o carro ficou com uma pequena amolgadela. A única coisinha “pequena” e “insignificante” foi mesmo ter rebentado um pneu.

No meio de tanta desgraça e azares, uma vez que já estava completamente molhada, gelada e desconfortável, o que é que me custava apanhar com mais uns litros de chuva pela espinha abaixo e ajudar a pobre criatura a mudar o pneu?

Lembro-me como se fosse hoje: entrei na sala de reuniões para o tal compromisso onde substitui o administrador e disse a mim mesma: “Sapadora bombeira, empregada de limpeza, ajudante de mecânica e executiva, tudo no mesmo dia, tudo na mesma manhã, num espaço de duas horas. Depois disto, só uma bomba”.

Lá fora, ao mesmo tempo deste pensamento, um estrondo horrível completamente consentâneo com a velocidade das palavras na minha cabeça: uma tampa de sarjeta saltou no ar e partiu o vidro de um carro.

E eu pensei para mim mesma:” Tu não te atrevas a ir lá fora ver o que se passa”. Play dead, Carla Maria. Play dead!